
Foi no número de Novembro de 1945 da revista Vértice que apareceu uma nota crítica que virá a desencadear uma das polémicas mais interessantes, em Portugal, no domínio da história e filosofia da ciência e que opôs dois espíritos dos mais lúcidos da intelectualidade portuguesa, António Sérgio (1883-1969) e Bento de Jesus Caraça (1901-1948), num pleito em que se confrontaram diferentes concepções sobre a natureza da ciência e o conceito de número[1]. A esta polémica já se dedicaram vários estudos[2], contudo o seu interesse e significado filosófico-científico apela a que se lhe dedique mais algumas linhas de atenção, sabendo de antemão das dificuldades colocadas pela argumentação labiríntica, e algo críptica, usada pelos antagonistas.
O estilo intrincado e sinuoso justificava-se pelo facto das duas personagens conhecerem bem as linhas filosóficas com que cada um se cozia (o embate das alegações não era frontal mas flanqueado), também a fuga às malhas da censura obrigava a algum cuidado na linguagem utilizada. Não se pode esquecer que os meses (anos) em que ocorre esta polémica se sucederam ao fim da Segunda Guerra Mundial, um período em que no país há uma efervescência social muito viva e uma ampla movimentação política organizada de oposição ao Estado Novo, donde, consequentemente, havia a esperar uma cerrada prática repressiva…
[1] (Sérgio, 1945, 1946a, 1946b; Caraça, 1945, 1946, 1970).
[2] A referência (Coelho, 1990) é dedicada unicamente a esta polémica e nas suas páginas publicam-se os seis textos que constituem a contenda, entretanto apareceram outros trabalhos que também se debruçaram sobre ela, (Rodrigues, 2003), (Príncipe, 2004) e (Pombo et al., 2006).
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