António da Costa Lobo Vilela - Breve Saudação

Autor
João Tomas do Amaral

Cada vida é um sonho entre dois infinitos, Félix Rémo 

Neste momento da história da humanidade convivemos com uma enorme crise sanitária, que faz estragos na saúde, na economia, na cultura e no social. Período em que há uma batalha de narrativas e o discurso principal fica por conta das questões de prevenção e controle da pandemia. Mas há um pandemônio planetário – generalizado em todos os seus contextos e contornos. Pois, nos entornos e contornos de nossa vida cotidiana ocorrem poucas convergências e muitas divergências de narrativas, e geram concordâncias e discordâncias. Nesse cenário, encontramos a Ciência em relevo, a Saúde, a Educação, e a Economia confrontadas quanto aos seus níveis de qualidade, e ainda, no âmbito social – a morte incrivelmente banalizada e desrespeitada, com a ausência de oportunidade de se reverenciar a vida, a obra, o encontro, e a amizade. Neste contexto histórico, o queridíssimo e particular Amigo António da Costa Lobo Vilela, faleceu em sua amada Lisboa – Portugal, às 18h30min, da quinta-feira, 17 de dezembro de 2020. As circunstâncias propiciaram conhecer e reconhecer a sua trajetória pessoal e profissional, em algumas vertentes de sua atuação – no esporte, na arte, na gestão de empresas, na política e na advocacia. No esporte, o basquetebol e o pugilismo. Na arte, o cinema, a poesia e os Jograis de Lisboa. Na gestão de empresas, a presidência de Seguradoras e o banco. Na política, a participação partidária e ação consciente da plena cidadania. Na advocacia, a Ordem dos Advogados reconheceu a sua consistente e eficiente atuação profissional. As suas ações e intervenções, quer no pessoal ou no profissional, têm um traço comum de sua marcante personalidade. A ilustre figura de António da Costa Lobo Vilela está diretamente vinculada à expressiva personalidade de António Eduardo Lobo Vilela – com intensa atuação no cenário político e cultural português do século XX. A vinculação está, inicialmente, nos laços de consanguinidade, pois é o filho único de Eduardo. O tempo se encarregou de sedimentar a maior das vinculações – a afetividade extremamente respeitosa pela vida e obra do pai – como homem de ação. A trajetória de António Eduardo Lobo Vilela, também, está intimamente ligada a Bento de Jesus Caraça – amizade sólida, desde a infância na alentejana Vila Viçosa. Há alguns anos, dedicava especial atenção à obra de seu progenitor, na organização de manuscritos e de publicações históricas, bem como na reedição de alguns livros sob a sua orientação. A partir de 2009, António da Costa Lobo Vilela, reeditou algumas obras de seu progenitor. Reedições com sua intensa atividade na seleção, na revisão e nas notas, e na escolha de nomes ilustres para as introduções, os prefácios, e a apresentação dos eventos de lançamento dessas obras – sessões concorridas e expressivamente cívicas. Essas reedições têm cunho filosófico e político, mas com destaque para “Lobo Vilela e a Polémica Sobre a Universidade e o Ensino nos Inícios do Estado Novo”, “O Debate Socialista no Fim da Segunda Guerra”, e “A Obra Política de Lobo Vilela na Resistência Democrática ao Estado Novo”. Em 2012, proferiu conferência no Colóquio “Os 70 anos do livro Conceitos Fundamentais da Matemática de Bento Caraça”, sob o tema “Uma visão de António Lobo Vilela Sobre Bento de Jesus Caraça” – um artigo censurado. Há mais de uma década, António da Costa Lobo Vilela, acolheu à solicitação para conversarmos sobre os matemáticos dos anos 40 e os amigos António Eduardo Lobo Vilela e Bento de Jesus Caraça. O motivo central dessa conversa – o percurso de investigação com foco em Bento Caraça, mas também vinculado a Lobo Vilela, por suas trajetórias distintas, mas com curiosas e interessantes coincidências – a matemática, a política e a cultura geral. Nesse período estava construindo um acervo de obras e de informações destas duas personalidades da história portuguesa. Assim, desde o nosso encontro inicial em seu escritório de advocacia, em Lisboa, seguiram-se vários outros, presenciais, telefônicos, e e-mail, que consolidaram uma amizade transatlântica com laços de família, da qual compartilhamos momentos inesquecíveis. Nesse período construímos uma rede de conexões luso-brasileiras fortemente significativas – pontes de amizades devidamente ligadas. Assim, destaco a amizade de António da Costa Lobo Vilela com Nuno Fidelino Lobo da Costa de Figueiredo, que curiosamente, trabalhava na organização de manuscritos e de publicações de Fidelino de Figueiredo – com alguns livros reeditados sob a sua orientação. As curiosidades se ampliam – Nuno Fidelino de Figueiredo foi aluno de Bento Caraça no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, por outro lado Fidelino de Figueiredo articulou convite a Caraça para ser professor de Matemáticas Aplicadas, na Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo, e, também, que António Eduardo Lobo Vilela manteve aproximação com Fidelino de Figueiredo e Nuno Fidelino de Figueiredo. Nossa pretensão não está em esgotar as suas intervenções e ações, mas apenas destacar alguns aspectos pontuais de uma vida e obra, com tantas vertentes e nuances que merece melhor profundidade de estudos. A motivação e a emoção inspiraram de forma singela e sintética a composição de um rápido cenário para compreendermos a sua dimensão e importância. Assim, no momento, em que os sentimentos afloram e as palavras faltam, pelo falecimento do querido e estimado amigo, surge esta saudação de reconhecimento e de gratidão por sua vida e obra, e ainda pela dádiva da Vida, do Encontro e da Amizade a António da Costa Lobo Vilela.